Uso de toxina botulínica em doenças neurológicas

Uso de toxina botulínica em doenças neurológicas
Uso de toxina botulínica em doenças neurológicas

Uso de toxina botulínica em doenças neurológicas

A toxina botulínica, conhecida popularmente como botox, embora esta seja apenas sua denominação consagrada como principal ou “referência”, há muito é utilizada também no tratamento de doenças neurológicas, tanto no controle de sintomas, quanto no auxílio de processos de reabilitação. Suas indicações cresceram enormemente nos últimos anos e atualmente sua aplicabilidade ganhou espaço em situações aparentemente inusuais, como no tratamento de transtornos de humor, em particular a depressão.

 

O que é a toxina botulínica?

A toxina botulínica é uma proteína produzida pela bactéria clostridium botulinum. Quando administrada oralmente, em grandes quantidades, bloqueia os sinais nervosos do cérebro para o músculo, causando fraqueza ou paralisia generalizada, chamada botulismo. Entretanto, quando aplicada em quantidades pequenas, em um músculo específico ou mesmo próximo a pequenos terminais nervosos na pele, pode produzir o relaxamento local e mesmo a diminuição da sensação exagerada de dor quando esta ocorre em algumas doenças crônicas, como neuropatias periféricas.

Seus efeitos terapêuticos costumam aparecer entre 7 e 14 dias, perdurando por 3 a 4 meses e extinguindo-se quase inevitavelmente por volta de 6 meses, sendo necessárias reaplicações para o controle desejado de sintomas.  Pelo fato de promover o relaxamento muscular, alguns efeitos colaterais podem aparecer, sendo em geral passageiros e mais ligados a uma sensação de fraqueza da musculatura bloqueada.

As apresentações comerciais mais frequentemente utilizadas em neurologia são o botox® e o dysport®, ambos de eficácia muito semelhante, variando, em geral, na sua forma de diluição ou preparo para que se atinja a concentração de toxina adequada para cada protocolo de tratamento proposto.

 

Principais indicações atuais do uso de toxina botulínica em neurologia

Tratamento de condições ligadas a distúrbios de movimento – como as distonias (contrações musculares involuntárias, decorrentes de movimentos exagerados de músculos agonistas e antagonistas produzindo posturais anormais, muitas vezes dolorosas em um ou mais segmentos do corpo, como pescoço, tronco e membros. Outra situação de forte indicação é o chamado espasmo hemifacial, em que uma parte do rosto contrai involuntariamente, em geral, em território inervado pelo nervo facial. Pode ser utilizada ainda na melhora da sialorreia – produção excessiva de saliva decorrente de situações doença de parkinson ou parkinsonismo.

Tratamento da espasticidade – esta é uma condição de contração muscular mantida em um segmento do corpo, sustentada, fixa, por vezes também dolorosa, e que pode ser consequência de uma série de desordens neurológicas como traumatismo crânio encefálico severo, parada cardiorrespiratória com hipóxia ou queda acentuada de fluxo sanguíneo cerebral promovendo sequelas, acidente vascular cerebral, doenças infecciosas como meningites, doenças inflamatórias como esclerose múltipla.

Tratamento da enxaqueca crônica refratária – sem dúvida uma das principais novidades da última década, a partir do estudo preempt, que analisou a aplicação de doses de toxina botulínica em portadores de enxaqueca crônica resistente a outras formas de tratamento, e mostrou benefício com grande melhora na qualidade de vida destes pacientes. Nos últimos anos, observou-se melhora também no grupo de pacientes portadores de enxaqueca associada a dor tensional crônica, justamente pela ação relaxante muscular promovida pelo medicamento.

Mais recentemente observa-se ainda benefício no tratamento de outras formas de dor, como a neuralgia do trigêmeo refratária – condição que provoca dores faciais lancinantes, por vezes desencadeadas por gatilhos simples como lavar o rosto e que geram grande prejuízo funcional no dia a dia. Pode ser utilizada também em dores oro mandibulares provocadas por bruxismo e na dor neuropática refratária, com aplicações locais intradérmicas, como acontece muito comumente na neuralgia pós infecção por herpes zoster e nas neuropatias dolorosas de fibras finas, comuns nos pés.

Alívio de sintomas depressivos – em 2020, uma publicação da revista scientific reports, exibiu os dados de uma coorte de mais de 13 milhões de pacientes, submetidos a aplicação de toxina botulínica por algumas das condições já supra citadas, além do tratamento de rugas cosmiátricas e desordens no funcionamento da bexiga. Embora não tenha havido clareza acerca do exato mecanismo de ação, para surpresa dos pesquisadores, observou-se melhora significativa de sintomas ligados à depressão nestes pacientes, aparentemente superior ao uso dos antidepressivos convencionais.

Além de ser uma ferramenta eficaz na reabilitação e controle sintomatológico, a toxina botulínica costuma ter baixo índice de efeitos adversos, quando aplicada seguindo-se os protocolos clínicos vigentes, fazendo-se os ajustes necessários para cada caso individualizado.

É importante a busca por profissionais médicos especializados e familiarizados com seu uso, a fim de que se atinjam os melhores resultados com o mínimo de complicações.

Por: Dr. Marcus Vitor Oliveira  (CRM/SC 12512 | RQE 8844) e Dr. Filipe Laurindo Cabral (CRM/SC 17326 | RQE 14646).

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