Demência Fronto Temporal: A Doença de Bruce Willis

Demência Fronto Temporal: A Doença de Bruce Willis
Demência Fronto Temporal: A Doença de Bruce Willis

Demência Fronto Temporal: A Doença de Bruce Willis

Recentemente ocorreu a veiculação do diagnóstico do famoso ator norte americano Bruce Willis, de uma forma peculiar e menos frequente de Demência – a Demência Fronto Temporal, caracterizada no caso em questão por uma variante conhecida por Afasia Primária Progressiva.

Afasia tecnicamente designa a incapacitação severa da linguagem, seja na forma motora de expressão, seja na de compreensão, ou com envolvimento de ambas as condições – expressão e compreensão (tipo misto). Pode vir no contexto de várias situações, entre as quais acidentes vasculares encefálicos, doenças infecciosas cerebrais, doenças inflamatórias e tumores cerebrais. Na forma degenerativa se constitui por uma deterioração lenta e gradativa da linguagem na capacidade motora de expressão, dada por incapacitação de nomeação de objetos, hesitação ou espécie de gagueira ao início e durante a fala (apraxia da fala), dificuldades de repetição, troca de sílabas ou fonemas, cometimento de erros na grafia ou escrita e leitura, além de perda progressiva de fluência do discurso, como se o paciente não conseguisse manter uma conversa, dada dificuldade de encontrar palavras.

Curiosamente, ao início do quadro, a cognição ligada à memória costuma estar bastante preservada, não se observando alterações relacionadas em testes objetivos, diferentemente do que costuma ocorrer na Demência da Doença de Alzheimer, caracterizada em muito pela perda gradativa de memória episódica. Durante o curso da Demência Fronto Temporal, entretanto, ocorre a evolução para sintomas comportamentais como irritabilidade, comportamento inapropriado, agitação psicomotora e mesmo ataques de pânico, além de depressão. Muitos destes sintomas, aliás, aparecem ainda que de forma sutil no início do quadro.

Seu diagnóstico costuma ser difícil, como bem atesta o famoso caso acima descrito, sendo comuns avaliações por vários profissionais até que se ratifique a hipótese. Tal fato deriva tanto da baixa prevalência da doença na população de forma geral, como da pouca familiaridade de profissionais médicos para avaliação de distúrbios da linguagem. É importante a participação multiprofissional neste contexto de auxílio, tanto por fonoaudiólogos, quanto por neuropsicólogos com experiência em doenças neurodegenerativas. Exames de neuroimagem estrutural e funcional como Ressonância Magnética e Spect Cerebral ou PET CT podem sugerir padrões frequentemente associados a essas doenças – notadamente alterações ao nível dos lobos frontal e temporal esquerdos, responsáveis pela linguagem.

Diferentemente também da Doença de Alzheimer, a Demência Fronto Temporal não apresenta tratamento medicamentoso específico. Preconiza-se nos casos da variante Afasia Progressiva a prescrição e abordagem fonoterápica, eficaz na preservação temporária da qualidade de vida do paciente, tanto para melhora da articulação e planejamento motor da fala, quanto pelo desenvolvimento de estratégias de nomeação e compreensão, além do auxílio imprescindível à prevenção de complicações como dificuldades de deglutição (disfagias). Algumas medicações ansiolíticas ou antidepressivas, já de uso consagrado, como Trazodona, em doses habitualmente maiores que as utilizadas no tratamento da Depressão podem ser eficazes no controle dos sintomas comportamentais.

Por: Dr. Marcus Vitor Oliveira  (CRM/SC 12512 | RQE 8844).

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