Transtorno de Déficit de Atenção na vida adulta

Transtorno de Déficit de Atenção na vida adulta
Transtorno de Déficit de Atenção na vida adulta

Transtorno de Déficit de Atenção na vida adulta

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade – TDAH, caracteriza-se por ser uma desordem mental e neurológica promovida por uma série de falhas de processamento bioquímico e estruturais do tecido cerebral, comprometendo várias funções ligadas ao bom desempenho do intelecto, além de transtornos de humor e/ou afeto. Tipicamente, inicia-se na infância, sendo percebido mais frequentemente até por volta dos 12 anos, podendo, porém, passar despercebido e ser reconhecido somente mais tarde na idade adulta. Cerca de 25 % das crianças manterão os sintomas integralmente ao longo da vida e 65% apresentarão ao menos parcialmente o quadro quando adultos. Estima-se que a prevalência na população adulta seja da ordem de 4 a 5 %, e muitos pacientes apenas reconhecem ou percebem os sintomas nesta fase da vida, por julgarem erroneamente que tal quadro seja mero “traço de sua personalidade” ou pelo fato de haver maior percepção do problema em face das consequências que o transtorno traz ao longo desta complexa etapa do ciclo de vida.

Nas crianças os sintomas são 5x mais prevalentes ou presentes nos meninos, e na idade adulta costumam ocorrer de forma pareada em ambos os sexos. Apresentam-se como desatenção, dificuldades de concentração e distração, podendo ocorrer ou não hiperatividade. Existem três formas de apresentação clínica, tecnicamente reconhecidas – predominantemente desatento, predominantemente hiperativo, ou misto. Na idade adulta, a hiperatividade, inclusive, costuma ser substituída muitas vezes por sensação de inquietação constante, como se a pessoa estivesse frequentemente “com o motor ligado” ou sentisse dificuldades de relaxar, mesmo com tempo livre. Os adultos costumam relatar ainda sintomas como dificuldade de seguir instruções e direções, problemas de memória e recordação, dificuldade de se concentrar em projetos, incapacidade de organizar seu tempo e suas atividades e não conseguir concluir as tarefas a tempo. Estes sintomas contribuem para muitos problemas pessoais e interpessoais na vida particular. Adultos com TDAH são mais propensos a ter problemas conjugais, separações ou divórcios e vários casamentos do que os adultos sem o transtorno. O TDAH está associado a baixa autoestima na vida adulta e problemas com a ocupação funcional, como troca ou perda de emprego frequente, mau desempenho no trabalho e progressão mais lenta na carreira e menos satisfação profissional e dificuldades no aspecto financeiro. Foram descritos também altos índices de dependência química em adultos com TDAH. Outros problemas compreendem maior tendência a receber multas por excesso de velocidade e de cometer outras infrações com veículos, além de comportamento socialmente inapropriado inclusive, como maior tendência a prática de furtos.

Pesquisas mostram que o TDAH provavelmente se associa a deformações micro estruturais ao nível de determinadas áreas cerebrais, como os gânglios da base, cerebelo, córtex frontal e pré frontal – esta última associada ao comportamento inibitório humano, responsável pelo controle de atitudes impulsivas e compulsivas. A disfunção ao nível do córtex pré frontal, em tese, explicaria sintomas de hiperatividade, agitação e impulsividade, muito presente nestes pacientes. Portadores de TDAH tendem muitas vezes a tomar decisões com base na sua percepção intuitiva e no impulso, e menos por análise racional crítica, quadro que pode ser agravado por determinadas situações, como exposição excessiva a internet.

Durante a consulta ou entrevista, chamam atenção alguns aspectos, como o relato de dificuldade extrema de concluir leituras, de chegar frequentemente atrasado a compromissos e procrastinar ou adiar excessivamente tarefas do dia a dia, das mais simples às mais complexas. Paradoxalmente, indivíduos como TDAH podem apresentar uma concentração ou atenção “super seletiva”, com interesse despertado por atividades pouco convencionais da rotina diária, como por determinados tipos de filmes, práticas esportivas e assuntos que a primeira vista não parecem relevantes no cotidiano. É comum ouvir, que parecem “passar o dia pensando em besteira”, em detrimento de outras atividades, prazos e compromissos. Durante a entrevista é relevante ainda o histórico de possível hereditariedade, dado reconhecimento de sintomas no pai ou mãe, assim como antecedente de prematuridade, intercorrências gestacionais e uso de determinadas substâncias na gravidez, como álcool, cigarros ou cafeína em excesso.

Diante da suspeita do transtorno, recomenda-se avaliação neurológica com anamnese e exame físico detalhados, com aplicação de questionários padronizados e, se necessário, realização de rastreio laboratorial e por exames de imagem, a fim de detectar ou afastar a presença de fatores estruturais ou orgânicos/metabólicos que possam contribuir para os sintomas, produzindo outros distúrbios mentais, inclusive. Carências vitamínicas e disfunções hormonais podem exacerbar o quadro. É importante também o diagnóstico diferencial com outros transtornos de ordem mental psiquiátrica, como o Transtorno Bipolar, Ansiedade e Depressão Maior ou Episódica, os quais podem provocar sintomas cognitivos como desatenção e esquecimentos. Avaliação psiquiátrica pode ser necessária diante do contexto apresentado.

O seguimento terapêutico no adulto, firmado o diagnóstico, se dará preferencialmente com orientação de uso de medicações e possivelmente técnicas psicoterápicas a fim de atenuar os sintomas, melhorando o desempenho cognitivo quanto a atenção e capacidade de organizar e planejar tarefas no dia a dia. A abordagem terapêutica deve ser individualizada, considerando o contexto clínico e social do paciente, levando em conta suas necessidades nos diversos aspectos de sua funcionalidade interpessoal no trabalho, no ambiente doméstico e convívio social. O uso de psico estimulantes e alguns antidepressivos parece ter efeito benéfico e bastante efetivo para melhora do quadro. A psicoterapia metacognitiva, estruturada em técnicas para melhora da administração do tempo e controle da ansiedade, diante de tarefas a serem executadas, parece ter papel eficaz na abordagem terapêutica.

Importante ressaltar que por ser uma desordem de evolução crônica, com possível etiologia genética e estrutural, não apresenta uma cura definitiva. Porém, o adequado manejo terapêutico pode promover excepcional melhora na qualidade de vida, com otimização do desempenho intelectual nos diversos aspectos da vida cotidiana do paciente em sua rotina.

Por: Dr. Marcus Vitor Oliveira – CRM/SC 12512 | RQE 8844.

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