A avaliação dinâmica da circulação cerebral ou propriamente hemodinâmica cerebral por meio da ultrassonografia foi introduzida na prática clínica em 1982 pelo médico norueguês Rune Aaslid e colaboradores na determinação da velocidade do fluxo sanguíneo nas principais artérias que compõem o sistema vascular cerebral, com uso da técnica Doppler.
Trata-se de um método não invasivo, portátil, seguro e utilizado para mensuração do padrão de velocidade e direção com que o fluxo sanguíneo percorre as principais artérias cerebrais, que se vale dos desvios na frequência de ondas sonoras refletidas pelas hemácias em movimento.
O exame ultrassonográfico pode consistir da análise completa da porção intracraniana das artérias carótidas internas, artérias oftálmicas, cerebrais anteriores, médias e posteriores e porções intracranianas das artérias vertebrais e artéria basilar. Pode ser repetido sempre que necessário, além de seu custo ser menor que outras técnicas.
Por meio da técnica é possível fazer a identificação de fenômenos patológicos causadores de diversos sintomas, incluindo tonturas por situações de “insuficiência vertebro basilar” como estreitamento ou compressão de artérias vertebrais (próximas às estruturas ósseas da coluna vertebral cervical ou mesmo “roubo” de fluxo sanguíneo destas mesmas artérias por outras da circulação periférica, como nos braços.
O exame possibilita ainda a verificação da chamada “estenose intracraniana” ou estreitamento de outros grandes vasos intracranianos, de forma indireta, sendo fator importante de rastreamento de situações de risco para acidente vascular encefálico.
Outra utilidade é a capacidade de elucidação de causas de Acidente Vascular Encefálico, seja pela descoberta dos fatores já citados, como pela correlação entre fenômenos geradores de embolia ou coágulos que adentram a circulação cerebral provocando obstrução de grandes artérias – a presença, por exemplo de orifício cardíaco não fechado fisiologicamente ao nascimento, persistindo na vida adulta e associado a passagem de êmbolos patológicos – o chamado Forame Oval Patente ou Pérvio.
De forma mais corriqueira e frequente pode ser empregado no auxílio diagnóstico de cefaleias vasculares ou mesmo enxaqueca (embora com menor evidência). Outras situações em que se mostra bastante útil são a anemia falciforme em crianças, com monitorização de risco de acidente vascular encefálico por eventos trombóticos em consequência do quadro e, durante a gestação, nos casos de doença hipertensiva.
A técnica se presta ainda a monitorização de pacientes neurocríticos ou graves do ponto de vista neurológico, como aqueles submetidos a tratamento agudo do acidente vascular encefálico isquêmico (sono trombólise); avaliação de parâmetros de piora clínica em situações como a hemorragia subaracnoide, em que ocorre a ruptura de um aneurisma cerebral produzindo condição que necessita de manejo intensivo; mensuração indireta de elevação de pressão intracraniana em pacientes críticos por doenças cerebrovasculares. Pode ser utilizada também para monitorização da circulação cerebral durante grandes cirurgias cardíacas ou mesmo ortopédicas.
Ambulatoriamente, o exame pode ser realizado de duas formas – pela técnica exclusiva Doppler, em que um pequeno aparelho também conhecido por “Doppler Dedicado” faz análise de parâmetros de fluxo, “às cegas”; ou pelo uso de Ultrassom, com imagem chamada dúplex transcraniana, combinando imagens de doppler colorido de vasos cerebrais e de outras estruturas importantes também na avaliação de desordens neurológicas, como várias doenças degenerativas.
Como se vê, o método apresenta grande utilidade na avaliação neurológica clínica diária, sendo bastante seguro, não invasivo e que ganha cada vez mais espaço no dia a dia da prática da Especialidade – Neurologia.
Figura – Doppler Transcraniano realizado por Ultrassonografia, na pesquisa de embolia paradoxal como causa de acidente vascular encefálico isquêmico em paciente jovem. Exame confirmatório para presença de micro embolia.
Por: Dr. Marcus Vitor Oliveira – CRM/SC 12512 | RQE 8844.
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