Os primeiros registros de supostos casos de Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) remontam ao século XVIII. Neste artigo, exploraremos os primeiros relatos históricos dessa condição, desde as descrições atribuídas ao médico alemão Melchior Adam Weikard em 1775 até obras literárias influentes e a compreensão limitada da época.
A contribuição de Melchior Adam Weikard:
No final do século XVIII, o médico alemão Melchior Adam Weikard descreveu quadros clínicos sugestivos do TDAH. Suas observações foram um dos primeiros indícios dessa condição, estabelecendo uma base para futuras investigações.
Alexander Crichton e a sistematização do TDAH:
Em 1798, o médico escocês Alexander Crichton, enquanto traduzia para o inglês o texto de Weikard, procurou sistematizar as desordens mentais que envolviam intensa desatenção e incapacidade de aprendizado. Crichton observou o comportamento de seus pacientes e escreveu o capítulo “Atenção e suas doenças”, no qual abordava a “desatenção patológica” e sua potencial influência negativa no aprendizado.
A influência de Heinrich Hoffmann:
O psiquiatra alemão Heinrich Hoffmann contribuiu para a compreensão do TDAH através de suas histórias infantis. Em seu livro “Der Struwwelpeter” (“João Felpudo” no Brasil), Hoffmann narrou as histórias de “Filipe o Inquieto”, “João, o Cabeça de Vento” e “Filipe, o Malvado”, retratando comportamentos desatentos, inquietos e hiperativos observados em crianças naquela época. Além de escritor habilidoso, Hoffmann era um grande ilustrador, o que contribuiu para o sucesso de seu livro, inspirando outras obras subsequentes.
Limitações e relevância histórica:
Embora essas descrições não tenham caracterizado fielmente o transtorno devido à falta de conhecimento sobre diversas patologias mentais e neurológicas, como epilepsia, traumas cranioencefálicos, doenças metabólicas, infecciosas e tumorais, é relevante reconhecer o esforço em ordenar e descrever os transtornos de neurodesenvolvimento observados na época.
Comparação com a história do Parkinson:
É interessante notar que a doença de Parkinson, por exemplo, só foi descrita de maneira mais precisa cerca de 50 anos depois, no início do século XIX, por James Parkinson. Isso ressalta a complexidade e os desafios associados à compreensão dos transtornos neurológicos e de neurodesenvolvimento.
Conclusão:
Os transtornos de neurodesenvolvimento, como o TDAH, são prevalentes e afetam não apenas crianças, mas também adultos, acarretando diversos prejuízos na funcionalidade individual. Além disso, estão associados a complicações potenciais, como doenças mentais graves, desordens metabólicas como diabetes e traumas não provocados. A compreensão histórica desses transtornos nos permite traçar uma linha evolutiva do conhecimento, destacando a importância contínua da pesquisa e da conscientização sobre o TDAH na sociedade atual.
Por: Dr. Marcus Vitor Oliveira (CRM/SC 12512 | RQE 8844).
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